Gouveia e Melo "transformado em Ventura" acusa Mendes de ser lobista

O último frente-a-frente entre candidatos presidenciais, disputado por Marques Mendes e Gouveia e Melo, na TVI, foi caracterizado por acusações graves entre ambos, praticamente do início até ao fim.
Logo na intervenção inicial do debate, o ex-chefe do Estado-Maior da Armada passou ao ataque, dizendo que o antigo presidente do PSD e atual conselheiro de Estado devia explicações aos portugueses por ter um percurso profissional de "opacidade" no plano dos negócios e dos interesses.
Pediu explicações ao seu adversário sobretudo em relação ao que fez na sociedade Abreu Advogados e como sócio da JMF, em que o associou a processos de vistos gold. "Devia dizer aos portugueses qual é verdadeiramente a sua profissão, além de comentador".
Marques Mendes no contra-ataque disse que teve admiração pelo almirante quando coordenou o plano de vacinação, afirmou mesmo que "o país lhe está grato" por esse tempo, mas, que agora, como candidato presidencial, mudou de personalidade, desesperado por estar em queda nas sondagens.
"Delapidou um capital enorme de popularidade, credibilidade e prestígio", afirmou Marques Mendes, dizendo, a seguir, que o almirante se especializou em "politiquice, através de insinuações permanentes" e "está transformado em André Ventura".
O conselheiro de Estado, em sucessivas ocasiões, desafiou Gouveia e Melo a "dar um exemplo concreto" de conflito de interesses, ou de promiscuidade entre política e negócios. Gouveia e Melo referiu-se então à participação de Mendes na JMF, mas recusou o papel de desenvolver o assunto, dizendo que isso seria "virar o bico ao contrário".
Neste ponto sobre a JMF, o antigo presidente do PSD rejeitou ter tido qualquer relação com vistos gold. E reagiu contra o almirante: "Fica-lhe muito mal esse papel".
A questão relativa ao percurso profissional de Marques Mendes ocupou os primeiros 20 minutos de um debate de 30 minutos, e ainda foi retomada no final.
Num dos momentos mais tensos, Henrique Gouveia e Melo dirigiu-se a Marques Mendes da seguinte forma: "O senhor não é transparente, tem que justificar o que é que faz na Abreu [Advogados] para ganhar o ordenado que ganha. Pode ser perfeitamente legal, mas, em termos éticos, é que as suas relações de negócios..."
O conselheiro de Estado interrompeu imediatamente: " Mas que negócio? Desculpe, que negócio em concreto? Dê um exemplo, um único", afirmou, antes de lamentar uma vez mais o estilo de atuação do seu oponente -- um estilo de agressividade que associou a "socráticos" que estão na candidatura do almirante.
Traçou então uma linha de demarcação entre si o Gouveia e Melo.
"A diferença entre nós é assim: eu também ouço a cada passo pessoas a vir falar comigo, porque o senhor não é propriamente muito popular nas Forças Armadas, a contar histórias a seu respeito. Mas eu nunca na vida falo dessas matérias, porque não faço insinuações sem provas", afirmou, elevando aqui um pouco o tom da sua voz.
No plano estritamente político, o antigo presidente do PSD e ministro dos governos de Cavaco Silva acusou o ex-chefe do Estado-Maior da Armada de fazer "ziguezagues" em matérias como o Serviço Militar Obrigatório ou investimento militar, e procurou passar a ideia de que, se fosse eleito chefe de Estado, Gouveia e Melo representaria a instabilidade. Disse que o almirante, em público, na Universidade do Minho, admitiu demitir o Governo de Passos Coelho.
"O senhor tem de provar isso", reagiu Gouveia e Melo, que antes já tinha recusado ter mudado de posição nas matérias de Defesa referidas por Mendes.
Outra parte "quente" do debate surgiu depois de Marques Mendes apontar que uma queixa anónima contra si tinha sido arquivada na Procuradoria-Geral da República (PGR), o que levou Gouveia e Melo a comentar: "É muito interessante esse caso, porque doutor António Costa anda há meses, há meses, para que lhe digam claramente se é arguido ou não é arguido. E o senhor, em um dia e meio, conseguiu imediatamente."
Marques Mendes deixou-lhe então uma advertência: "O senhor acaba de dizer uma coisa gravíssima" ao "insinuar" que tenha existido uma diligência junto da PGR. E Gouveia e Melo declarou: "Então, eu peço desculpa".
Ao longo do debate, o almirante também tentou colocar em causa a independência política de Marques Mendes, colando-o ao PSD e ao primeiro-ministro, Luís Montenegro.
"Se for Presidente e o senhor primeiro-ministro for constituído de arguido, o que faz? Vai demitir o primeiro-ministro?, perguntou. Marques Mendes alegou que esse cenário não se coloca, até porque Luís Montenegro "acaba de ser ilibado no caso da Spinumviva".
O almirante contrapôs que "o primeiro-ministro tem neste momento um outro processo em curso" e referiu que a sua posição é de só admitir dissolução do parlamento em circunstâncias "muito graves".
"Tenho à minha frente um homem desesperado. Quem lança suspeitas não é recomendável para ser Presidente da República", declarou Marques Mendes.
[Notícia atualizada às 22h53]
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